O Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA), reconhecido pela CAPES em 2000, foi criado na Área Interdisciplinar, com nota 4. Desde o início, foi resultado da conjunção de pesquisadores de diferentes formações, mas principalmente de agrônomos e cientistas sociais, tendo como elo comum o interesse científico na problemática da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia e na abordagem sistêmica. Os cursos de doutorado e mestrado são de responsabilidade interinstitucional, envolvendo a Universidade Federal do Pará e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, através de sua unidade em Belém, a Embrapa Amazônia Oriental.
O objetivo principal do Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas continua sendo a produção de conhecimentos sobre as questões agrárias e ambientais envolvendo a agricultura familiar na Amazônia e a formação de professores, pesquisadores, profissionais e lideranças que atuam no espaço agrário, quer seja no ensino, na elaboração de políticas públicas voltadas para o meio rural, na implementação de ações de pesquisa-desenvolvimento voltados para a agricultura e extrativismo familiar e no apoio e consolidação do ensino voltado para a realidade agrária. Dentre as preocupações básicas do Programa destaca-se a formação de recursos humanos capazes de atuar em estreita colaboração com as diferentes formas de organização da produção agrícola e extrativa familiar, tanto no que diz respeito a mudanças técnico-econômicas dos sistemas produtivos quanto à melhoria da gestão dos recursos naturais e das políticas públicas na perspectiva de um desenvolvimento rural sustentável.
A origem do PPGAA, cuja concepção se instaura no início dos anos 1990, corresponde à iniciativa acadêmica, pioneira na UFPA e no Norte do Brasil, de integrar questões agrárias e ambientais, tendo-se como foco a Agricultura Familiar, que nesta época era pouco reconhecida. A UFPA foi criada em 1957, mas o Centro Agropecuário, que depois se transformou em Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural e é hoje o Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), surge oficialmente somente em 1994. Antes de sua criação oficial, pesquisadores brasileiros e franceses já atuavam em pesquisa e desenvolvimento associada à questão agroambientais, em estreita relação com as organizações dos agricultores familiares. Esses pesquisadores já se preocupavam com a renovação e a expansão de um quadro de profissionais capazes de responder a questões agrárias em ambientes complexos. Nesta perspectiva, em 1991, concebeu-se o curso de Especialização em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agroambiental na Amazônia (DAZ), que esteve abrigado incialmente no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPA, até a criação do Centro Agropecuário. No âmbito desse curso foi possível colocar em prática, pela primeira vez no contexto amazônico, um conjunto de princípios teóricos e metodológicos inovadores, de caráter interdisciplinar, voltado para o estudo da Agricultura Familiar regional de forma interdisciplinar, contextualizada social, econômica, ambiental e politicamente.
A concepção que embasou a criação do PPGAA baseava-se na ideia de aliar a produção do conhecimento científico acerca da Agricultura Familiar local com a formação de recursos humanos, capazes de refletir e intervir nesta realidade. Para tanto, duas condições se faziam necessárias: i) estar em associação e diálogo com as diferentes formas de organização social dos agricultores familiares, e assim garantir a imersão do discente nessa realidade a ser pesquisada; e ii) um aporte teórico metodológico que possibilitasse a compreensão da complexidade de sistemas de produção praticados pelos agricultores familiares amazônicos.
A proposta de trabalhar com a formação em nível de pós-graduação provém da constatação, não só da realidade do ensino superior na Amazônia, mas em todo o país com notáveis exceções, de que existe uma deficiência nas Universidades em tratar dos problemas de desenvolvimento rural com a devida consideração ao protagonismo dos sujeitos e das especificidades locais. Essa concepção equivocada se deve à relação distanciada entre a academia e a sociedade, e se reflete no próprio ensino, que segmenta os conhecimentos e desconsidera os sujeitos que vivem situações específicas. Essa concepção é também, em grande parte, derivada do modo como parte das pesquisas tem sido concebida, ou seja, de maneira alienada das situações e necessidades camponesas.
O curso de Doutorado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável (DAFDS) segue os passos iniciais do mestrado, que se define pela combinação de enfoques interdisciplinares, multidisciplinares e transdisciplinares de maneira a proporcionar a produção de conhecimento sobre os principais temas que tratam da complexidade da produção de base familiar no meio rural e das condições de sua transformação. A adoção da interdisciplinaridade para abordar o desenvolvimento rural procura, em uma primeira etapa, se apropriar rigorosamente das teorias e metodologias de disciplinas clássicas. Em seguida, investir esforços de pesquisa em áreas que se constituem como fronteiras entre enfoques disciplinares, buscando teorias e práticas científicas integradoras. Na etapa seguinte, busca-se consolidar esse constante exercício, que permite uma leitura interdisciplinar da agricultura familiar na Amazônia e suas relações sociais, econômicas e ambientais. Exercer a interdisciplinaridade exige uma constante reflexão e revisão das diferentes correntes de pensamento sobre a formação social e econômica da Amazônia, os modelos de desenvolvimento e as dinâmicas agrárias locais na sua relação com as globais. Além dessa contextualização, a interdisciplinaridade é exigida nos estudos sobre a agricultura familiar propriamente dita, estudando-se os fatores biofísicos e ecológicos, lógicas de desenvolvimento técnico e condicionantes sociais e econômicos regionais de forma integrada, numa perspectiva sistêmica sob diferentes perspectivas.
Tanto o mestrado quanto o doutorado do PPGAA são cursos de responsabilidade interinstitucional, envolvendo a Universidade Federal do Pará e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, através de sua unidade em Belém, a Embrapa Amazônia Oriental. Essa associação das duas instituições remonta ao início do mestrado.
Quando o PPGAA foi criado, existia uma intensa parceria entre o então NCADR/UFPA-Campus de Belém, hoje INEAF/UFPA, e faculdades em dois campi da UFPA do interior, nos municípios de Altamira e Marabá, para a viabilização dos cursos de graduação criados pelo grupo do PPGAA: Licenciatura em Ciências Agrárias e um bacharelado em Agronomia, ambos na perspectiva da Agricultura Familiar. Desde o início, a parceria tinha como intenção formar profissionais alinhados com as demandas de agricultores familiares e mobilizar os egressos desses cursos no interior para a continuidade na formação, em nível de pós-graduação, na capital, Belém.
Mais recentemente, o PPGAA tem expandido sua atuação para diversas outras regiões, inclusive com apoio de seus egressos, contando com aproximadamente 25 deles como professores de Institutos Federais ou mesmo da UFPA no interior do Pará. Além disso, muitos egressos colaboram com a inserção regional das pesquisas e dos estudantes do PPGAA por atuarem em diversas instituições ligadas à agricultura familiar em zona rural, como é o caso das Empresas de Extensão, estatais ou privadas, ICMbio, Secretarias de Agricultura e Meio ambiente locais.
Contudo, a principal estratégia de inserção regional do Programa sempre se estabeleceu através da interação com os movimentos sociais camponeses, com os quais as demandas quanto à pesquisa e extensão são construídas.
Com relação à inserção acadêmico/científica do PPGAA na área Interdisciplinar, ela é viabilizada através de colaborações e intercâmbios com instituições de ensino e pesquisa, tanto nacionais como internacionais, conforme será descrito em item específico mais adiante. Estas colaborações nacionais, em especial aquelas com instituições que atuam em toda a Amazônia, também garantem uma capilaridade regional.
O principal propósito do Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas continua sendo a produção de conhecimentos sobre as questões agrárias e ambientais envolvendo a agricultura familiar na Amazônia e a formação de professores, pesquisadores, profissionais e lideranças que atuam no espaço agrário, quer seja no ensino, na elaboração de políticas públicas voltadas para o meio rural, na implementação de ações de pesquisa-desenvolvimento voltados para a agricultura e extrativismo familiar e no apoio e consolidação do ensino voltado para a realidade agrária. Dentre as preocupações básicas do Programa destaca-se a formação de recursos humanos capazes de atuar em estreita colaboração com as diferentes formas de organização da produção agrícola e extrativa familiar, tanto no que diz respeito a mudanças técnico-econômicas dos sistemas produtivos quanto à melhoria da gestão dos recursos naturais e das políticas públicas na perspectiva de um desenvolvimento rural sustentável.
Ao longo da trajetória do PPGAA, vários pesquisadores com diversas titulações passaram, deixando sua marca. Para o atual mestrado e doutorado, o corpo docente é hoje composto por docentes que asseguram a interdisciplinaridade dos cursos na sub-área temática de Meio-Ambiente e Agrárias. Temos hoje 20% dos docentes titulados na grande área Multidisciplinar, 50% em Ciências Humanas, 10% em Ciências Biológicas e 20% em Ciências Agrárias. Devido a esse perfil eclético, os docentes têm inserção na graduação em diversas faculdades da UFPA, além da graduação em Desenvolvimento Rural. Vemos que, embora não tenham a titulação na área Interdisciplinar, vários docentes tiveram sua trajetória acadêmica conjugando uma graduação em uma área disciplinar e a pós-graduação em outra. Por isso, o quadro docente tem conseguido manter um portfólio diversificado e interdisciplinar de projetos de pesquisa, de extensão e desenvolvimento.
A história do curso também vem sendo construída por um interessante corpo discente, proveniente de diferentes cursos de graduação, sendo os principais: Agronomia, Engenharia Florestal, Medicina Veterinária, Biologia, Direito, Geografia, História, Pedagogia, Turismo, Tecnologia de Alimentos, Sociologia e Antropologia. Os egressos se inserem em diversas áreas e posições institucionais, inclusive como doutorandos em diferentes universidades. Através de um PROCAD realizado com o PGDR – Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vários de nossos egressos participaram com sucesso de mestrados sanduíches, três se inseriram com ótimas classificações no doutorado daquela universidade, outros na Unicamp, UFOPA, UFRA e na UFSC.
Desde o último quadriênio, houve o incremento da participação dos docentes do PPGAA em bancas do PGDR e em outros PPGs no Brasil, nessa interação percebeu-se o interesse de potenciais candidatos de outras regiões do país pelo nosso Programa. Desde 2014, a seleção do Mestrado tem sido realizada também em outros municípios no país: Campinas, Rio de Janeiro, São Luís, Porto Alegre, Campina Grande, Cuiabá, Manaus, Rio Branco, além de Belém, Altamira, Marabá, Paragominas e Cametá, no Pará. Esse interesse parte também de estudantes estrangeiros. Nos últimos anos, por meio de demanda espontânea e via o Programa GCUB (Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras) e OEA (Organização dos Estados Americanos). A Fulbright também financiou a participação de duas mestrandas da França durante um ano em nosso Mestrado, assim como temos recebido com apoio de bolsas do CNPq e Capes, estudantes oriundos da Colômbia, Bolívia, Costa Rica e outros países latino-americanos, além de estudantes norte-americanos, venezuelanos e franceses que, anualmente, chegam ao Programa para desenvolver estudos, estágios e pesquisas de campo via intercâmbios bilaterais ou bolsas de projetos de pesquisas comuns.
A ênfase nas duas linhas de pesquisa que combinam ciências sociais, ambientais e agrárias, enfocando em movimentos sociais rurais, agroecologia e na abordagem sistêmica, distingue os cursos do PPGAA de outros na região Norte, em específico no Estado do Pará. Outros cursos existentes na região tendem à especialização e fragmentação, com doutorados fundados em cada uma das diferentes áreas do conhecimento, carecendo da abrangência e perspectiva articulada que nossa proposta vislumbra.
Certamente, neste ponto da história do PPGAA, o doutorado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável fortalecerá não apenas a formação de jovens pesquisadores e futuros docentes, mas também fomentará a pesquisa para produção de conhecimento interdisciplinar e para contribuir para o desenvolvimento local em maior profundidade. A recente aprovação do doutorado aponta para o fortalecimento de uma tendência ascendente e de consolidação do Programa, iniciada em 2015, diante do retorno à área Interdisciplinar.